O Bispo reformado João Somane Machado, da Área de Moçambique, está a ser lembrado como uma figura paterna com um riso contagiante que contribuiu imensamente para o crescimento e desenvolvimento da Igreja Metodista Unida em África e a nível mundial.
Machado morreu em 25 de Outubro em Maputo, Moçambique, aos 77 anos.
“Machado era um pai que não podia escolher entre filhos privilegiados e desprivilegiados. Ele era um pai que não me via como pastor, mas como seu filho,” disse o Rev. Filipe Hoguane, diretor do Seminário Teológico de Cambine em Moçambique.
As principais realizações do bispo incluem a ordenação das primeiras mulheres pastoras em Moçambique e fazer parte de um grupo de líderes religiosos que contactou os rebeldes insurgentes da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) para acabar com a agitação civil de 15 anos e restaurar a paz em Moçambique em 1992, disse Hoguane.
“O mandato de Machado também testemunhou o crescimento da igreja em duas conferências: Moçambique Norte e Moçambique Sul,” disse ele.
Machado, o terceiro bispo Metodista Unido para Moçambique é creditado por promover e apoiar a educação dos jovens e pelo estabelecimento de uma escola na Província de Tete que foi apropriadamente denominada Escola Secundária Bispo João Somane Machado.
A Bispa Joaquina F. Nhanala, que lidera a Área de Moçambique, descreveu Machado como um professor e mentor que expandiu a igreja para novas áreas do país.
“Ele foi um defensor do ministério das mulheres e serviu o país e além fronteiras. Ele foi um exemplo de fazer do mundo a sua paróquia,” disse Nhanala, a primeira e única mulher bispa da Metodista Unida em África.
O Rev. André Viera, professor da Faculdade de Teologia da Missão de Quéssua, no Leste de Angola, disse que conheceu Machado quando o primeiro bispo da sua conferência, Moisés Domingos Fernandes, reformou.
“Machado interveio durante cerca de três anos até à eleição do Bispo José Quipungo. Durante esse tempo, ele ajudou a conferência a crescer e estabeleceu a escola de teologia e a escola de pastores em Quéssua,” disse Viera.
Wehnam Dabale, diretor de ex-alunos, internacionalização e relações eclesiásticas da Africa University, descreveu Machado como “o general de Deus, um educador e teólogo contextual”.
“Ele apoiou a instituição desde a sua fase de formação e acreditava que com instituições como a AU, a unidade de Africana está garantida. Durante o seu mandato, ele enviou muitos jovens, homens e mulheres, para estudarem e a maioria deles são agora líderes da igreja, do governo e de organizações privadas de Moçambique,” disse Dabale.
O Bispo aposentado Ntambo Nkulu Ntanda, das áreas de Katanga do Norte e Tanganica, disse que Machado era um “estadista de integridade” que deixou um bom modelo para todos os bispos Africanos.
“Ele tinha uma mentalidade de desenvolvimento e viveu a sua vida pelo povo Moçambicano e pela Igreja Metodista Unida. Ele tinha muita sabedoria e manteve a igreja unida,” disse Ntambo.
Ele atribuiu a Machado a criação da iniciativa Esperança para as Crianças de África, que angariou fundos para construir escolas em África.
“O Bispo Machado foi um verdadeiro líder eclesiástico que trabalhou para a sua igreja e morreu servindo-a. Ele era um patriota e adorava a maneira como ele colaborava com os bispos recém-eleitos e os colocava sob sua proteção. Agradeço a Deus pela sua vida,” disse Ntambo.
Machado nasceu a 16 de Maio de 1946, em Cambine, distrito de Morrumbene, província de Inhambane. Frequentou a escola primária em Cambine e mais tarde fez a formação de professores.
Frequentou a Universidade Metodista de São Paulo, Brasil, de 1975 a 1978, onde obteve o diploma de bacharel em teologia. Obteve um mestrado em teologia em Kinshasa e regressou a Moçambique, onde serviu como pastor assistente na Igreja Metodista Unida de Malhangalene, em Maputo. Ao mesmo tempo que foi assistente episcopal do falecido Bispo Almeida Penicela.
Machado foi eleito para o episcopado em 1988 em Lubumbashi, Congo, e serviu como bispo da Igreja Metodista Unida em Moçambique e na África do Sul até 2008, altura em que reformou após quase 20 anos de ministério e serviço.
O Bispo aposentado David K. Yemba, da Área Episcopal do Congo Central, disse estar com o coração partido pelo falecimento de Machado. Os dois se conheceram quando Machado se matriculou para estudar na então Faculdade de Teologia Protestante em Kinshasa, no Congo.
“Sabendo que era de um país de língua Portuguesa, surpreendeu os seus professores ao tornar-se proficiente em Francês após um curto e intensivo curso de língua. Ele também se tornou fluente em Lingala (o idioma local) enquanto servia em nossas igrejas. Ele era uma pessoa que facilmente fazia amigos nas comunidades onde morava e servia.
“Como bispo da Igreja, a sua forte liderança impactou muitas vidas em toda a conexação e ele representou o Conselho dos Bispos quando presidiu às eleições episcopais em Kamina, Congo, em Fevereiro de 2005,” disse Yemba.
Ele lembrou-se de Machado como um grande líder que viajou extensivamente e serviu a igreja incansavelmente e elevou a imagem da Igreja Metodista Unida onde quer que fosse chamado para desempenhar funções missionárias e ministeriais.
O Bispo da Área do Zimbabué, Eben K. Nhiwatiwa, presidente do Colégio dos Bispos de África, disse que o antigo bispo de Moçambique era um grande líder.
“O Bispo Machado esteve na classe dos nossos pais espirituais nas conferências centrais em África. Para nós, na Área Episcopal do Zimbabué, ele respondeu ao apelo da igreja geral para providenciar liderança em momentos de necessidade. Ele deu à área uma liderança excelente,” disse ele.
Um dos pastores mais jovens que olhou para Machado em busca de orientação e amor paternal foi o Rev. Lloyd T. Nyarota do Zimbábue, que atualmente serve na Igreja Anglicana Unida de St. John em Canadá.
Ele recordou-se dum incidente ocorrido em 2004, quando viajou para Moçambique para o funeral de um colega da Universidade de África.
“O Bispo Machado, ao saber que eu tinha viajado do Zimbabué, providenciou pessoalmente para que eu estivesse confortável, seguro e alimentado. Fiquei emocionado com o amor do bispo. Machado tratou-me como um filho e sempre me disse que eu era Zimbabuense e Moçambicano, pois ele tinha-me adoptado. A igreja perdeu um pai, um líder e um bispo amoroso,” disse Nyarota.
“Durante as reuniões da Conferência Central de África, Machado sempre aliviava as tensões em assuntos difíceis. O bispo contava uma piada e ria-se alto e todos na sala, se não rissem da piada, acabavam rindo,” disse.
Armindo Mapoissa, coordenador dos Ministérios dos Jovens e Voluntários em Missão na Conferência do Sul de Moçambique, disse que Machado recomendou a sua nomeação em 2004 para ser o primeiro jovem adulto a representar África na divisão dos Ministérios de Discipulado em ministérios com jovens.
“Machado foi um pai para mim; ele aconselhou-me sobre como ser um bom líder. Ele sempre me incentivou a ser transparente. Vou me lembrar dele como um bom líder, um líder servo e humilde, um pai, um conselheiro, um mentor, um grande pregador, um homem de paz e verdadeiramente um homem de Deus,” disse Mapoissa, que também atua como oficial de desenvolvimento institucional para a conferência.
O Bispo Daniel Wandabula, presidente do Colégio de Bispos da Conferência Central de África, disse que Machado possuía grande liderança, sabedoria e conhecimento, o que levou a deliberações e resultados frutíferos durante as sessões da conferência.
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Machado serviu como bispo interino na África Oriental após a morte do Bispo Alfred Ndoricimpa em 2005. “Nesse curto espaço de tempo, ele conseguiu organizar uma sessão especial da conferência anual onde ordenou pastores. Mais tarde, ele organizou outra conferência anual na capital do Burundi, Bujumbura, onde nomeámos presbíteros cujos nomes seriam enviados para a sessão especial da Conferência Central de África em Mutare, Zimbabué, em 2006. Estou feliz por ter sido através dos seus esforços que eu foi eleito bispo da África Oriental,” disse Wandabula.
Disse ele que Machado também será lembrado pelo seu sacrifício e empenho na campanha Imagine No Malária, que visava erradicar a malária do continente Africano e reduzir o número de crianças e mães grávidas que morrem de malária.
“Através da sua dedicação e do nosso esforço combinado, a campanha Imagine No Malária conseguiu fornecer redes mosqueteiras a milhões de pessoas em África,” disse Wandabula.
“Machado foi um daqueles bispos através do qual se via a verdadeira imagem de Deus. Ele era o tipo de pessoa que refletia o amor de Deus tanto para a igreja quanto para o próximo. Ele não guardaria nenhuma amargura mesmo quando fosse injustiçado.”
Machado deixa esposa, Nocia Madonela Machado, duas filhas e 12 netos. Ele será enterrado em Cambine no dia 31 de Outubro.
*Chikwanah é correspondente das Notícias da UM com sede em Harare, Zimbabué. Contacto de mídia de notícias: Julie Dwyer através do (615) 742-5470 ou [email protected]. Para ler mais notícias da Metodista Unida, assine os Resumos Diários ou Semanais gratuitos.
***Sambo é correspondente lusófono para África para Notícias da MU.