Pontos-chave:
- Em 1966, a Igreja Metodista de Capitol Hill, em Washington, pendurou uma placa para dedicar um grande e belo vitral de Jesus a J. Edgar Hoover, que comandou o FBI de 1924 a 1972.
- O estacionamento da igreja é o antigo local onde Hoover morou desde a infância até os 43 anos.
- Após muita discussão, a igreja rededicará a janela em uma cerimônia em 29 de setembro, e a antiga placa será exibida em outro lugar da igreja, junto com uma explicação das circunstâncias.
Quando se pensa em Jesus, o antigo chefe do FBI J. Edgar Hoover dificilmente será o próximo pensamento. E vice-versa.
Mas essa associação frequentemente surge na Igreja Metodista Unida Capitol Hill em Washington. Há um enorme e lindo vitral de Jesus no santuário. Uma placa próxima dedica o vitral a Hoover, que chefiou o FBI e sua agência predecessora de 1924 até sua morte em 1972. O estacionamento da igreja fica na propriedade onde Hoover nasceu e viveu por muitos anos.
Sim, o mesmo Hoover que tentou chantagear o Rev. Martin Luther King Jr. e insistiu por anos que a máfia não existia. O mesmo Hoover que supostamente possuía arquivos de fotos e relatórios embaraçosos de funcionários do governo e outras vítimas como seguro para mantê-lo em sua posição.
“(A placa) sinaliza para mim que você concorda que J. Edgar Hoover é um bom modelo para virtudes cristãs”, disse a pastora da igreja, a Revda. Stephanie Vader. “Porque, do contrário, por que você a colocaria lá?”
Uma vista da Igreja Metodista Unida Capitol Hill em Washington (esquerda) e o vitral de Jesus no santuário (direita). Uma placa dedicando a janela a J. Edgar Hoover está sendo movida do santuário para outro local na igreja. Foto cortesia da Igerja Metodista Unida Capitol Hill United Methodist Church.
A congregação planeja abordar a situação e, esperançosamente, reconciliá-la, com uma cerimônia de rededicação da janela em 29 de setembro para distanciá-la de Hoover. A placa original será movida para outro lugar na igreja, junto com uma explicação das circunstâncias.
“Houve uma cerimônia de dedicação em 1966, da qual o próprio Hoover participou, junto com vários bispos brancos, porque éramos conferências segregadas na época”, explicou Vader.
O evento de setembro pretende ser um contrapeso à cerimônia de 26 de junho de 1966.
De acordo com um relato de Gale Monro, arquivista da igreja, o culto de dedicação contou com sermões e orações de importantes clérigos brancos que declararam que Hoover merecia ser homenageado por sua dedicação às virtudes cristãs.
“O Rev. Edward Lewis, pastor da CHUMC, pregou sobre a passagem das escrituras sobre o chamado divino do profeta Samuel, que ajudou a nação de Israel a retornar a Deus, do pecado e da idolatria”, escreveu Monro. “(O) Rev. Lewis disse que Hoover era um Samuel moderno que havia atendido ao chamado de Deus para afastar a América da subversão e voltar a Deus.”
Isso é um grande elogio para um homem cujo legado tem sido questionado desde então. Hoover recebe crédito por avançar a tecnologia do FBI, mas algumas de suas atividades eram suspeitas ou totalmente ilegais.
“O FBI estava espionando grupos estudantis, grupos de mulheres e grupos de direitos civis — e não por crimes cometidos ou supostos crimes, mas realmente por suas convicções políticas”, disse Lerone A. Martin, professor da Universidade de Stanford e autor de “ The Gospel of J. Edgar Hoover: How the FBI Aided and Abetted the Rise of White Christian Nationalism” (O Evangelho de J. Edgar Hoover: Como o FBI ajudou e encorajou a ascensão do nacionalismo cristão branco).
O Rev. Martin Luther King Jr. (centro, atrás), o político e ativista dos direitos civis Andrew Jackson Young Jr. (centro, frente) e membros do movimento dos direitos civis protestam em frente ao memorial de Jefferson Davis na manifestação March Against Fear (Marcha contra o medo) em Grenada, Mississippi, em 14 de junho de 1966. Foto de Charmain Reading, um artista contratado pelo Student Nonviolent Coordinating Committee (Comitê de coordenação estudantil não-violenta ) para documentar os protestos negros no Sul em frente aos memoriais confederados. Foto cortesia da IMU Capitol Hill.
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O movimento nacionalista cristão de hoje , uma ideologia de que os EUA devem ser governados por cristãos evangélicos brancos e suas crenças, remonta diretamente a Hoover, disse Martin. Hoover foi criado como presbiteriano.
“Eu acredito que está conectado a Hoover”, disse Martin. Em um webinar para a Metodista Unida Capitol Hill que ele apresentou no início deste ano, Martin citou Hoover dizendo em 1961 que o FBI tem ‘um propósito cristão … defender e perpetuar a dignidade da dotação cristã da nação’”.
“Quando Hoover assumiu o FBI, ele foi deliberado em fazê-lo refletir suas visões nacionalistas brancas e cristãs”, disse Martin. “Ele se livrou de todas as mulheres que eram agentes especiais e de todos os homens de cor também. Ele contratou exclusivamente homens brancos católicos e protestantes para serem agentes do FBI e para serem a liderança de seu FBI.”
Hoover também usou informações coletadas pelo FBI para pressionar políticos e outros, acrescentou Martin.
“Há relatos documentados de quando o Senado teria que votar em verbas, que Hoover enviaria um agente do FBI a um congressista e diria: 'Recebemos essas fotos de sua esposa fazendo isso, ou temos motivos para acreditar que você está fazendo isso, e queremos que você saiba que estamos cientes da situação e estamos cuidando dela.'”
“Essa era uma forma de pressionar indiretamente um certo congressista a votar da maneira que o FBI queria que ele votasse”, disse ele.
Foi documentado que Hoover tentou usar gravações de King em situações sexuais comprometedoras para tentar induzi-lo a cometer suicídio.
Tudo isso torna problemática a placa que reconhece Hoover como um bom modelo de virtudes cristãs.
“É o maior ponto focal do nosso santuário”, disse Vader. “É a maior janela. É enorme.”
Discernir como abordar a questão tem sido “um longo processo”, disse Tamara Rountree, membro da igreja e parte de sua equipe do ministério de justiça racial.
“Este é um tópico muito sensível que eu não acho que deva ser apressado ou empurrado goela abaixo das pessoas”, disse Rountree. “Eu sou forte em educar as pessoas e garantir que elas entendam as coisas, então queríamos dar à congregação o máximo de voz possível nisso. Tem sido muito deliberativo.”
A equipe do ministério da justiça racial se reúne mensalmente para discutir a placa da janela e outras questões raciais. Entre outras atividades, a banda iniciou um programa para pagar royalties por Negro spirituals (Espirituais negro, um gênero musical) realizados na igreja. Este ano, o dinheiro foi para a Duke Ellington School of the Arts, uma escola de artes local.
“Fizemos muito discernimento dentro do nosso grupo”, disse o membro da igreja Steve DeWitt. “Fizemos com que os jovens da nossa igreja dessem uma olhada na janela e a estudassem, e foram eles que recomendaram rededicá-la.”
Os jovens da igreja fizeram um vídeo sobre isso.
“Uma opção é que poderíamos dedicá-lo à comunidade CHUMC”, diz um garoto no vídeo. “Queremos mostrar apoio a uma comunidade que nos apoiou, e queremos mostrar que, embora Hoover, que nem era membro da Igreja Metodista, não apoiasse toda a comunidade, nós apoiamos.”
A disposição dos membros brancos da Igreja Metodista Unida de Capitol Hill em abordar a questão é significativa para os membros negros da igreja, disse o administrador da igreja, Xavier Hodge.
“Estamos todos na mesma situação: não queremos ser conhecidos como um lugar que homenageou alguém que fez tantas coisas ruins”, disse ele.
A questão não é se devemos perdoar Hoover por seus lapsos, disse Vader.
“Podemos perdoá-lo e (ainda) retirar a placa”, ela disse. “Houve alguns momentos realmente poderosos, como uma de nossas membros mais novos, que agora é nossa líder leiga, que é negra e disse que se juntou há um ano.
“Ela disse, 'Sabe, eu nem tinha notado a placa quando comecei a vir, e eu estava animada com a igreja, então eu me filiei. E então eu notei a placa e acho que se eu tivesse notado quando comecei a vir, eu não teria me filiado.'”
*Patterson é um repórter da Notícias MU em Nashville, Tennessee. Entre em contato com ele pelo telefone 615-742-5470 ou [email protected].Para ler mais notícias Metodistas Unidas, assine gratuitamente os resumos quinzenais.
**Sara de Paula é tradutora independente. Para contatá-la, escreva para [email protected].