É hora - bem atrasada, na verdade - para a Igreja Metodista Unida fazer progressos nas questões raciais que ultrapassam os clichês do passado, disseram os líderes negros da denominação.
Questões difíceis e complicadas de justiça racial foram levantadas em 2020 pelos protestos Black Lives Matters (Vidas Negras Importam) e a insurreição de 6 de janeiro no prédio do Capitólio em Washington, bem como as mortes pela polícia de afro-americanos, incluindo George Floyd em Minneapolis, Breonna Taylor em Louisville, Kentucky, e Daniel Prude em Rochester, Nova York.
A campanha “Dismantling Racism: Pressing on to Freedom” (Desmantelando o Racismo: Pressionando para a Liberdade) , anunciada em junho, é uma iniciativa de toda a igreja para desmantelar o racismo e trabalhar em prol da justiça racial.
Os esforços incluíram um dia de oração e adoração, campanha publicitária nacional, eventos de adoração regionais e locais, reuniões em conselhos, podcasts, webcasts e um site onde os espectadores podem encontrar recursos para ajudá-los a aprender mais e agir.
Muito disso equivale a falar sobre o problema, mas os envolvidos esperam que seja um começo, não um fim em si mesmo.
“O esforço de desmantelamento do racismo da Igreja Metodista Unida é um esforço organizado esperado há muito tempo por parte da nossa denominação para enfrentar o racismo e o privilégio dos brancos”, disse o bispo aposentado Ernest Lyght, que liderou a Conferência da Virgínia Ocidental de 2004 a 2011.
“Temos que enfrentar o que existe entre as pessoas e Deus e entre os brancos e outros seres humanos, especialmente as pessoas de cor”, disse ele. “O racismo é uma questão de cabeça e de coração. A UMC tem que se concentrar em mudar os corações.”
A Revda. Josephine Whitely-Fields, uma anciã aposentada que pastoreava igrejas em três estados e serviu como diretora de missões e evangelismo na Associação Oeste da Pensilvânia, chamou o programa de “um passo na direção certa”.
“Eles estão se concentrando em trazer os negros para a mesa de discussão para determinar como vamos seguir em frente”, disse Whitely-Fields. No passado, os Metodistas Unidos Negros sentiam que os líderes da igreja estavam mais inclinados a “nos dizer o que eles vão fazer, em vez de ver o que desejamos e o que seria significativo para nós”, acrescentou ela.
As feridas são profundas, disse o Rev. Jerome King Del Pino, pastor aposentado que foi o principal executivo do Conselho Metodista Unido de Educação Superior e Ministério pela década que terminou em 2010.
Ele se lembra de uma das críticas que ainda o irritam.
Del Pino, cujo pai serviu na velha Jurisdição Central segregada racialmente, ajudou a arrecadar dinheiro que se pensava ser destinado a faculdades e universidades historicamente negras relacionadas com a denominação. Mas, embora as instituições brancas fossem financiadas de forma confiável, as HBCU's não eram, disse ele.
Novo recurso convida a ensaios sobre racismo
Notícias MU está convidando as pessoas a compartilharem suas próprias histórias pessoais sobre encontros com racismo, bem como esperanças e ideias para combatê-lo, em um novo fórum intitulado “Somos a Família de Deus: Encontros Pessoais com o Racismo”. O recurso é projetado para promover o diálogo e construir a compreensão de como o racismo afeta as pessoas em um nível pessoal.
Uma história como essa ilustra que o racismo na Igreja “não é uma questão que possa ser abordada de uma perspectiva fundamentalmente de bem-estar”, disse Del Pino.
“A verdadeira questão é: quem vai nos dar liderança no desmantelamento da supremacia branca?” ele disse. “Esse é o problema. O racismo é a evidência. É o subproduto da compreensão da realidade de um supremacista branco que afeta todos os aspectos de nossa existência neste país e especialmente a igreja.”
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A liderança local para a ação antirracismo parece estar surgindo.
A Conferência North Texas está na fase piloto de um programa denominado Congregational Journey Toward Racial Justice (Jornada Congregacional Rumo à Justiça Racial). Quatorze igrejas se inscreveram e sete já estão em funcionamento.
A ideia é fornecer um processo e um conjunto de recursos para ajudar a apoiar o trabalho de justiça racial de congregações predominantemente brancas. As estratégias incluem ter conversas vitais sobre racismo, fomentando a competência intercultural e promovendo a equidade institucional - em outras palavras, igualdade de condições - em sistemas e políticas de conferências.
“A Jornada Congregacional Rumo à Justiça Racial foi projetada para ajudar as igrejas locais a olharem mais de perto a si mesmas em relação aos seus vizinhos, próximos e distantes”, disse o Rev. Joshua Manning, pastor sênior da Igreja Metodista Unida em Dallas e membro da equipe de coordenação do esforço.
Os líderes de denominação ofereceram outras sugestões específicas de maneiras de trabalhar para o progresso:
• “Reafirme nosso batismo”, disse a Bispa da Conferência da Virgínia Ocidental, Sandra Steiner Ball, que é branca. “Não como uma ação ou rito religioso, mas como um lugar de lembrar quem somos e ouvir Deus chamar nossos nomes, chamar-nos novamente à responsabilidade para viver como um povo que renuncia ao mal, professa nossa fé e expressa nossa lealdade a Cristo em cada situação em que nos encontramos.”
• O Conselho dos Bispos deve desenvolver um documento de ensino sobre racismo, um equivalente ao seu pronunciamento “Em Defesa da Criação” sobre o cuidado com o meio ambiente, disse Lyght.
• Deve haver “confissão contínua por parte da liderança da maioria branca da igreja de que seus antepassados criaram esse problema (da supremacia branca) e seus filhos, como beneficiários, o perpetraram”, disse Del Pino.
• A liderança da Igreja precisa “desenvolver relacionamentos, parcerias e amizades que possam superar o racismo”, disse Steiner Ball. “Cristo nos reúne todos em um só corpo e deixa claro que não há nenhuma parte menor ou desnecessária do corpo”, disse ela. “Seja curioso sobre outras culturas, outras formas de viver e de vida. … Acho que nosso diálogo nas conversas do Front Porch modela e orienta as etapas de como isso pode ser feito.”
O Rev. Stephen Handy (centro) lidera uma vigília de oração na Igreja Metodista Unida McKendree em Nashville, Tennessee, em junho de 2020. O culto foi realizado para lamentar e lembrar as pessoas perdidas por atos de racismo. Foto de arquivo por Mike DuBose, Notícias MU.
As conversas do Front Porch consistem em três vídeos com discussões sobre raça. É projetado para aumentar a consciência individual e coletiva e desafiar os espectadores a continuar trabalhando neles e em suas comunidades para eliminar o racismo.
A reunião geral virtual dos Metodistas Negros pela Renovação da Igreja, de 19 a 20 de março, tem como tema “Racismo: A Agenda Inacabada. BMCR conclama nossa igreja a cumprir sua promessa de 1968”.
Saiba mais sobre as clérigas negras
O Bispo Forrest Stith, o bispo residente na Igreja Metodista Unida Asbury em Washington e membro vitalício do BMRC, falará sobre o tema da conferência. Outros oradores, painelistas ou moderadores incluirão M. Garlinda Burton, presidente-executivo interino da Comissão Metodista Unida sobre Religião e Raça; e o Rev. Rudy Rasmus, pastor sênior da Igreja St. John's Downtown em Houston e editor do livro “I’m Black. I’m Christian. I’m Methodist." (Eu sou negro. Eu sou cristão. Sou metodista).
O encontro será seguido por cinco webinars virtuais, um por mês de junho a outubro, sobre temas como saúde, crianças e “Para onde vamos a partir daqui?”
As contínuas lutas sobre a sexualidade humana obscureceram questões de racismo e sexismo no Metodismo Unido, disse Lyght.
“A disputa sobre a sexualidade humana suspendeu as preocupações raciais no sentido de que a disputa cria um desvio e um abrigo para as pessoas que não querem lidar com o racismo”, disse Lyght. “Na minha opinião, não seremos capazes de resolver as diferenças sobre a sexualidade humana até que superemos o racismo e eliminemos a supremacia branca.”
Whitely-Fields, cujo novo livro “Pioneer Black Clergywomen: Stories of Black Clergywomen of the United Methodist Church 1974-2016” (Pioneiras Clérigas Negras: Histórias de Clérigas Negras da Igreja Metodista Unida 1974-2016) examina as carreiras do clero feminino negro na denominação, disse que ela trabalhou em igrejas dominadas por brancos que a aceitavam como uma líder negra da igreja.
"Esse é um pássaro raro, mas ocorre."
Mas é preciso fazer mais, disse ela.
“Tenho esperança de que os esforços em que estamos nos empenhando agora para enfrentar o racismo sejam de fato o passo em frente que nos leva além de onde estivemos por anos - mais complacentes, sem realmente avançar muito. Tenho esperança de que isso mude.”
*Patterson é repórter da Notícias MU em Nashville, Tennessee. Contate-o em 615-742-5470 ou [email protected]. Para ler mais notícias da Metodista Unida, assine os resumos quinzenais gratuitos.
**Sara de Paula é tradutora independente. Para contatá-la, escreva para [email protected]